Mais de 2 milhões de animais morrem atropelados em rodovias todo ano

Matéria publicada no O Globo, em 16/09/19
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Pesquisador percorreu 30 mil quilômetros pelo Brasil para fazer levantamento; últimos dados publicados pelo governo foram em 2014

RIO — Em 1995, Alex Bager trabalhava na Estação Ecológica do Taim, no Rio Grande do Sul, estudando tartarugas de água doce. Nos 90 quilômetros que percorria diariamente entre a estação e a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), onde também realizava pesquisas, uma coisa chamava sua atenção: os animais atropelados nas rodovias.

Vinte e três anos depois, essa questão o levou a sair em uma jornada de 30 mil quilômetros pelo Brasil, durante um ano, para entender como morrem os bichos nas estradas. E concluiu que, por ano, são mais de dois milhões de animais de médio e grande porte mortos nessas circunstâncias.

A expedição, que foi seu projeto de pós-doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais ( UFMG ), começou em agosto de 2018 e terminou em junho deste ano. Pelo caminho, Bager achou 529 animais mortos, o que o levou à estimativa de 2.163.720 atropelados por ano. A base do cálculo veio de um primeiro levantamento feito em 2014 no Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, da Universidade Federal de Lavras, também em Minas Gerais.

Na pesquisa de campo de agora, Bager levantou informações sobre os animais que habitam os mais de 100 parques nacionais e outras unidades de conservação por onde passou. Com base nisso, para chegar ao cálculo, elaborou uma taxa por estrada (se ela é de alto ou baixo fluxo, pavimentada ou não etc.) e por área.

Segundo o levantamento, a maior vítima das estradas brasileiras, entre os bichos de médio e grande porte, é o cachorro-do-mato — mais de um milhão por ano. Além disso, foi a única espécie com registro de óbito em todos os tipos de estradas. O pesquisador faz uma ressalva: apesar de ter encontrado apenas uma espécie de anfíbio durante sua jornada, essa é, segundo ele, a classe que mais morre nesses casos, mas não foi contabilizada em razão do tamanho.

— Não monitorei anfíbios. Fiz o trecho todo a 80 km/h no meu carro, era impossível computar animais de pequeno porte porque não tinha como vê-los. É importante ser bastante cauteloso porque isso pode gerar sensação de que anfíbios não morrem em estrada, mas é o contrário. Eles e as pequenas aves são as maiores vítimas —explica Bager, um dos criadores do aplicativo Urubu Mobile , que, desde 2014, é usado de forma colaborativa para usuários enviarem registros de animais mortos pelas estradas brasileiras.

Para mitigar o atropelamento da fauna, o ecólogo diz que seria muito importante que os governos federal e estaduais discutissem as questões ambientais durante o planejamento das estradas.

— A própria manutenção delas ficaria muito menor se houvesse esse planejamento. O que acontece é que se cria o problema e depois tem que resolver. Isso deveria estar no projeto inicial.

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